14 fevereiro 2012

Algemas


de que serve um poeta no caos?
um pássaro que migra sem retorno
por ter perdido o rumo e os sonhos
em busca de um dia de sol
acostumado que está
ao próprio desconforto
prefere descansar na escuridão
sem qualquer promessa de luz

essa vã liberdade
tão almejada
vai tornar o dia rosa
vai secar essa lágrima
ou arrancar o peso do chão?

ouvi de um espelho
que as piores algemas
são as que prendem
o indivíduo
a si mesmo

nesse tempo de inutilidade
o amor envelhece
mais do que nós
e voar nem é preciso
basta olhar para o céu
abrir os braços
e engolir
a possibilidade do voo
como quem pensa que vive
como quem mente o que sente
como quem olha o mar


(arte de Alexey Terenin)

3 comentários:

  1. Um belo poema, uma imagem perfeita.
    Gostei muito daqui, Helen.
    Beijo.

    ResponderExcluir
  2. Sabe o que mais gosto?
    Do dom que você tem de animar o inanimado e transformá-lo em um personagem que vive sempre com a gente mas eu, por exemplo, nem percebia.
    Passarei a escutar espelhos...

    ResponderExcluir