03 agosto 2012

Já não sofro mais




deixa-me estar quieta 
cheguei no limite
onde a estrada da urgência
e o horizonte dos presságios
se encontram
na esquina em que o guardião do vento
intercepta a dor

o inverno já apodreceu as folhas caídas
as guerras estão do outro lado do mundo
tudo o que nos fere está entorpecido
como a noite no deserto
tento escrever um poema de amor
mas as palavras escorrem silenciosas
e pousam como nódoas sobre o papel

deixa-me estar quieta
o coração enrola-se em posição fetal
serena a respiração
engole o grito
e desenha lágrimas na terra
os buracos palpáveis na alma
por onde o hálito do futuro bafeja
me remetem a um tempo de lucidez
 - não é tristeza, mas regresso

essa sombra que atravessa o dia 
somos apenas nós 
tentando viver
a cumplicidade do abandono



arte de Fidel Garcia



2 comentários:

  1. Como diria Quintana, a boa poesia é aquela que nos dá a impressão de ser lidos por ela e foi esta a impressão que tive ao ler este texto, Helen. Quanta sensibilidade. Parabéns! Um abraço sereno no seu coração!

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