27 agosto 2012

Queria ter guardado mais




queria ter guardado mais
do tempo
da vida
da alegria
dos momentos
as poucas lembranças cativas
enroladas na alma feito novelo
são pequenos tesouros
que não desenham mapas
vêm e vão quando querem
tocam-me como um sopro de brisa
dissolvem-se nas margens do corpo
busco nas altitudes uma nesga de passado
(por que será que se inclina a cabeça para trás
ao tentar recordar algo?)
a voz de minha avó
o aroma dos quintais da infância
o som da rua pela janela do apartamento
o sabor do refrigerante na estação de trem
o cheiro da boneca nova de vinil
a primeira vez frente ao mar
os risos no recreio da escola
a vertigem do primeiro beijo
a excitação das vésperas de bailes
o primeiro sorriso dos filhos
fontes remotas de imagens
sensações
espectros
da história que vivi
tudo se mistura e se perde
no remoinho do tempo
memórias deveriam estar acessíveis
lado a lado
como livros na estante
e não como pedras
perenemente empilhadas
umas sobre as outras


arte de Charles Dwyer



Um comentário: