10 janeiro 2013

Em algum canto de mim





Eu celebro o eu, num canto de mim mesmo,
E aquilo que eu presumir também presumirás,
Pois cada átomo que há em mim igualmente habita em ti.
Walt Whitman (Canção de mim mesmo)



penso em me mudar para uma casa menor
onde a solidão não possa se espalhar tanto
e então mantê-la sentada imperceptível no canto
da sala

a dor deixo como poeira
grudada nos cantos
na mala apenas
desencanto e a vontade de futuro
levanto os olhos secos
emoldurados de infinito
entoo um canto
desolado e aflito
a lembrar
de quando morri num voo
não consumado
náufraga de um barco furado
fragilidade suicida
folha sem vida presa ao galho
falho ato de liberdade

só lhe peço
na saída
devolva o que me pertence
e está costurado em sua vida
meu coração
meu canto
minha poesia
tudo o que a solidão não vive sem
levo para a nova residência
para que haja amor e coerência
em algum canto de mim



(imagem de Mircea Pleteriu)



Nenhum comentário:

Postar um comentário