"ninguém sai de casa a menos que a casa seja a boca de um tubarão"
(Warsan Shire)
ela bordava palavras
no céu de azul escuríssimo
para não perder os sonhos de vista
sentada à porta da casa
brincando com um ramo seco
o olhar parado a mente itinerante
remédio nem carecia
um pouquinho de dor por dia
todo mundo pode aguentar
mas os sonhos – ah os sonhos
pano de se vestir inteira
e viajar dentro da noite
escalava as silhuetas dos montes
que jamais ultrapassara
cabelos soltos ao vento
alma errante e corpo ardente
desejava ansiosamente
um dia se libertar
passou a mão bem de leve
nas marcas de sua agonia
nem raiva mais brotava
nem lágrima mais escorria
gostava de estar sozinha
beber o silêncio da noite
sentir o coração bater forte
e se o acaso lhe mudasse a sorte
veria certamente sua luz brilhar
recostada ao batente
adormeceu encolhida
enrolada e imersa
na profunda fantasia
...
de tanto sonhar acordou poesia
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