26 dezembro 2010

A Casa


nos dias da eterna alegria
das janelas coloridas e das luzes acesas
risos infantis ecoavam pelos cômodos
os beijos roubados na sacada
e os suspiros de amor recendendo a jasmim
eram fragmentos de vida
escondidos pelos cantos
ou passeando pelo jardim
o perfume dos doces e da sidra
espalhava-se pelo quintal
assanhando passarinhos e crianças
comemoravam-se chegadas
choravam-se partidas
partilhavam-se sonhos
cultuavam-se segredos
as portas eram sempre abertas
e o amor morava ali

a casa como um cofre
guarda em si enorme tesouro
tudo o que mais amavas
(e nem sabias que era tanto)
repousa sob a poeira do tempo

se não mais habitas a casa
que então o cinza não faça em ti morada
e porque acreditaste que a alegria era eterna
e porque a memória nos beija a face
não assopres o pó nem abras as janelas
deixa as folhas cobrirem o jardim
deixa intactos os sonhos e as promessas
deixa a vida nas fotografias
e nos bilhetes de amor amarelados
lava nas lágrimas tua saudade
e colhe na flor do passado
o perfume e o mel dos teus caminhos de futuro


Casa Grassmann, São Simão/SP - tombada em 1978 e transformada em Casa da Cultura Marcelo Grassmann (foto de Alexandre Sampaio)

5 comentários:

  1. Vim te ler e deixar beijos! feliz 2011!!

    chuaks

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  2. Sinto, ao mesmo tempo, estranheza e intimidade. Essa casa povoa nosso imaginário desde crianças.
    É a raiz que sustenta a grande árvore que cresceu com a nossa família.

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