29 maio 2012

Tempestades


Muito embora seus crimes me tivessem tocado tão de perto, em meu auxílio chamo a nobre razão, para sofrearmos de todo minha cólera. É mais nobre o perdão que a vingança. Estando todos arrependidos, não se estende o impulso do meu intento nem sequer a um simples franzir do sobrecenho. (A Tempestade, de W. Shakespeare)


coração partido, pisado, esmagado
debruçado sobre o passado
mergulha em seu holograma
fascinado pelo próprio drama


no lodo abalado jaz envolvente
desfigurada noção de presente
entorpecido por tanta blasfema
em que o ódio é própria algema


então se desfaz o sentimento impuro
que lhe castra o sentido de futuro
dissipa-se a imunda bruma
graça e perdão preenchendo a lacuna




arte de John William Waterhouse

21 maio 2012

Está tudo certo



quando eu digo: amor
sei que todas as células do teu corpo vibram
porque essa é a linguagem na qual foste criado

ainda que não vejas a luz
é nela que tu vives
pois dela foste gerado

vês o mal melhor do que vês o bem
mas ambos estão em equilíbrio
e quando fechares teus olhos cansados
abre os olhos da tua alma aflita
entenda que o bem sempre esteve mais iluminado

sofres a cada vez que ouves um não
morres um pouco em cada mudança
a vida te oferece tudo, amigo
por que insistes em ir na contramão?

quando eu digo: amor
sei que todas as células do teu corpo vibram
porque essa é a linguagem na qual foste criado


arte de Mioke

17 maio 2012

Maçãs


há maçãs nas macieiras
para serem colhidas
com as mãos


há maçãs nos olhos
para serem colhidas
com o sorriso


há maçãs nos semblantes
para serem colhidas
com carícias


há maçãs nas cidades
para serem colhidas
com o trabalho


há maçãs espalhadas
por toda a vida
para serem colhidas
pela eternidade




arte de Janis Zroback

09 maio 2012

Abrindo Caminhos




infelizes dos que pensam
que abrir caminhos
é sair por aí
acotovelando a vida
derrubando quem caminha ao lado

empunhando a navalha
ou a ponta da enxada
sem perceber que assim
só cavam a própria sepultura

melhor é esgueirar-se
buscar os vãos e as vielas

navegar sem esperança de terra firme
deitado no convés
banhado de luz e sereno
fazer do mar seu espelho
olhar-se nele e se ver no céu

ainda melhor
é dar a mão a outro
e outro e mais outro
e ir abrindo caminhos
onde todos possam caminhar


arte de Jennifer Cacaci