já
vou avisando: este será um poema sem rimas
sem
métrica (talvez nem seja mesmo um poema)
as
rimas são para a flor da pele
as
métricas para adormecer a plateia
e
estes são versos longos que mergulham meu caos interno
queria
falar sobre meu jardim que após a chuva coloriu-se inteiro
mas
meu coração sente falta de flor
não
se engane com meus olhos de mar calmo
é
no íntimo de mim que as tempestades se abrigam
e
a solidez do silêncio se desfaz em agulhas
talvez
eu seja um deus em férias
a
miragem de um poeta sobre cuja mão pesam as palavras
um
som que nem bem acabou de ecoar e já desapareceu
uma
ferida que não se cura
ou
somente um caroço exposto com um pouco de fruta grudada
interrompemos
esse poema para dizer: isso não é um poema
é
um castelo de cartas prestes a despencar
não
passa de um rascunho do desespero
de
quem trincou os olhos e vê a vida passar em fragmentos
essa
vida que decididamente não serve para cartão postal
e
no entanto sempre será viagem – como pó no vento
aqui
escrevo para transformar em verbo a espera – de quem nem sabe o que
espera
inquietude
é meu mote
eu
achava que o amor era um hosana nas alturas
mas
descobri – tarde demais – que é uma queda livre sem paraquedas
não
passa de uma droga psicodélica
a
que tanto mais se adita quanto mais se vive a vida do outro
e
se condena a um destino que não é o seu
eu
me alongo em vertigens de pensamentos
por
não saber o tempo que me é dado antes de medir a solidão
sim,
deixemos esses assuntos nos livros fechados, com marcadores dentro
tudo
bem guardado, o botão stand-by apertado, a luzinha acesa
empreste-me
seu ombro, falemos somente de amenidades
do
tempo, do futebol
estes
são os dias perdidos da minha vida
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