01 novembro 2020

Conversando com andorinhas


 
andorinha
um minuto do teu tempo
tão atarefado
por onde andas de dia
antes de te recolheres
aos vãos do meu telhado?

em meu ofício de poeta
tento traduzir teus gazeios
admiro os voos altos
e a algazarra matutina
que me inspira devaneios

nesses tempos tão hostis
busco palavras inversas
para descrever a vida
-a minha ou a tua? –
tanto faz
são apenas umas conversas

que é a vida
senão um nozinho
na linha da eternidade?
mas pensando bem
nossas existências delicadas
têm essa cumplicidade

não conheço Mikonos
nunca fui a Scarborough Fair
preciso cortar os cabelos e estou saudosa do mar
e tu andorinha, de que precisas?
tuas carências são singelas
basta um céu um abrigo e um par

nossa conversa está boa
mas preciso voltar à lida
cuidar aqui do meu ninho
que ser humano é maçante
complica demais a vida
(bom mesmo é ser passarinho)


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